João
Victor Lopes Rocha 7º C
Profª Amanda Giovanelli
Meu pai,
Osvaldo Gomes, hoje com 53 anos, sempre foi um grande historiador, ou seria
estoriador?
Não era
desses grandes estudiosos, nem letrado, mas sabia como ninguém contar “causos”.
Seus causos
nos mantinham acordados ao escurecer e nos faziam apreciar história antiga. A
história de nossa gente! História de gente conhecida, do nosso próprio sangue.
Através
destas histórias, muitas tinham papai como protagonista, aprendíamos sobre a
época, as coisas, lugares e pessoas.
Osvaldinho
foi criança nas cercanias de Gravatá, Pernambuco. Vivia na área rural, como
muitos. Estudou até o 3º ano do grupo escolar, sempre com muita dificuldade.
“As aulas de
antigamente eram dadas num balcão e o caderno era somente um monte de folhas
grampeadas, só ia quem queria. Quem não queria estudar, nem dava as caras por
ali, porque nem contavam as faltas.
A gente só
tinha duas camisetas e duas calças para durar o ano inteiro. Chegava o calor,
tomávamos banho e lavávamos a camiseta para poder usar no dia seguinte. Não
havia máquina de lavar e sim um lago mais próximo; o sabão era feito de cinzas
do fogão à lenha e soda.
Não existia
encanamento, quer dizer, até existia, mas a água só vinha uma vez por semana.
Para durar, enchíamos todos os galões e garrafas que tínhamos.
Quando meu
avô matava frango, cortava o pescoço do bicho e espetava nele um palito com
sabonete na ponta; em seguida, colocava um cigarro aceso na boca da ave e a
colocava no meio da mesa, para que todo mundo ficasse com nojo de comer o
frango assado, pois naquela época todo mundo era pão-duro.
Até existia
posto telefônico, mas tínhamos que ir lá para poder telefonar. Mas nem tínhamos
muito com quem falar, pois ter telefone era artigo de luxo.
O ferro de
passar tinha uma abertura e era oco por dentro, a gente abria e colocava carvão
em brasa dentro e soprava para o carvão queimar e o ferro ficar quente! Pesava
uma tonelada!
As mochilas
eram sacos de arroz costurados e remendados, os sacos de arroz eram grandes e
de pano, bem diferente do que conhecemos hoje, não existiam sacos plásticos.
Tinha gente que até fazia roupas de saco de arroz.
Antigamente,
morávamos em casas de forro de madeira com paredes de barro, as janelas eram
somente quatro pedaços de madeira sem trinco. As portas também.
Não era
preciso muita tranca, pois não haviam tantos ladroes como hoje!
Não
gostávamos do chão mal feito, de terra batida.
Uma coisa
interessante é que não havia botijão de gás, a comida era feita no fogão à
lenha. Isso diminuía o risco de explosão.
Não
assistíamos novela, pois não tínhamos tevê, as coisas eram ouvidas no rádio de
pilhas. Então, havia mais tempo para conversar e dormíamos com as galinhas,
pois ao escurecer só o lampião oferecia-nos um feixe de luz mirrado.
O banheiro
era um capítulo à parte! Não havia privada, íamos até o fundo do quintal, onde
havia uma casinha de tábuas, dentro tinha uma fossa, fazíamos as necessidades e
nos limpávamos com sabugo de milho ou folha de bananeira.
As crianças
tinham suas diversões. Balançávamos em pneus velhos, suspensos por barras de
ferro. Fazíamos brinquedos: bonecas de milho ou de estopa, que eram costuradas
pelas mães, com cabelos de lã e olhos de botões. Os meninos confeccionavam
carrinhos com caixas, carretéis de linha e tampinhas. Brincava-se de pião,
pular corda, amarelinha, passa anel, cantigas de roda, bolinhas de gude...
Bons tempos
de meninice! Crescíamos cedo, logo tínhamos que trabalhar para ajudar em casa,
mas para as horas vagas sempre havia tempo para a brincadeira.”
Os tempos
eram outros... Tudo sempre muda, moderniza-se... Mas guardamos na memória a
história de nossa gente; é o que vale no final das contas, é o que nos faz
entender quem somos, de onde viemos e a busca eterna de para onde vamos...
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